O PAPEL DA PROPAGANDA NA ESTIGMATIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Palavras-chave: Pessoas com deficiência, Estigma, Estereótipos, Textos culturais, Propaganda

Resumo

Compreender a dinâmica entre cultura e sociedade é essencial para o entendimento de costumes culturais, relações sociais e construção de estigmas decorrentes dessa dinamicidade. Dentro de tal perspectiva é relevante realizar estudos que utilizem textos culturais, visto que os mesmos possuem alta disseminação e exercem influência na sociedade. Assim, estudos de textos culturais, como publicidades e propagandas, são imprescindíveis para compreender como representações, principalmente de grupos que sofrem opressão, interferem na sociedade, inclusive no ato de consumo. Pessoas com deficiência, que são foco da presente pesquisa, se enquadram como um grupo oprimido que possui representações estigmatizadas. Definiu-se como objetivo de o estudo discutir as representações e os estereótipos das pessoas com deficiência em publicidade e propaganda brasileiras entre os anos de 2009 e 2019. Para atingir o objetivo foram analisadas por meio de análise de conteúdo vinte e duas peças publicitárias brasileiras que possuíam pessoas com deficiência representadas. Os resultados do estudo demonstram que a representação das pessoas com deficiência ainda é insatisfatória. Quando existe a representação carrega estereótipos negativos que acabam por criar estigmas como, por exemplo, a da passividade. Mesmo propagandas que trazem pessoas com deficiência não as representam como indivíduos independentes no que diz respeito a escolhas de consumo.

Biografia do Autor

Cecília Helena Santiago Florencio, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
Graduada em Administração Pública pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Marina Dias de Faria, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro ( UNIRIO), Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

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Publicado
2021-06-30
Seção
Artigos Originais