MEMÓRIAS DE GUERRA, VIOLÊNCIA PATRIARCAL E REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NO ROMANCE OS CUS DE JUDAS, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES
DOI:
https://doi.org/10.17765/2176-9192.2021v23n1e10007Palabras clave:
António Lobo Antunes, Espectropoética, Literatura Portuguesa, Representação do FemininoResumen
O presente artigo consiste em uma análise da representação do feminino no romance Os cus de Judas, do escritor português António Lobo Antunes, sob a perspectiva da espectropoética derridiana, em articulação com as demandas e questões apresentadas pela crítica feminista. Este estudo revelou, a partir da leitura minuciosa do objeto em aproximação com a reflexão de Derrida (1994) sobre o motivo do espectro, que o narrador-protagonista da obra é um homem assombrado por imagens espectrais da Guerra Colonial em Angola, na qual ele serviu como médico do Exército português, e de mulheres que passaram por sua vida, da infância à fase adulta, sendo estas catalisados pelo encontro com sua interlocutora, também uma figura espectral e que atua como seu espelho, em uma explanação de suas memórias da guerra. No entanto, por mais que sejam essenciais na obra, verificou-se, com base nos trabalhos de Garraio (2020), Kilomba (2019), Ribeiro (2019 e 2020) e Zolin (2005), entre outros, que essas mulheres, em geral, são retratadas de formas reducionistas, desdobrando as situações de violência extremas vividas por muitas delas nas memórias do narrador em uma violência simbólica exercida pelo próprio.Citas
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