Avaliação do estresse oxidativo causado pela exposição ao material particulado em trabalhadores de carvão vegetal

Palavras-chave: Radicais livres, Poluição atmosférica, Carvoeiros

Resumo

A produção do carvão vegetal está associada a poluição atmosférica e a diversos processos envolvendo o estresse oxidativo na população. Portanto, o principal objetivo deste projeto foi avaliar os efeitos causados pelo material particulado sobre os parâmetros de estresse oxidativo em trabalhadores que atuam na produção de carvão vegetal em Barão do Triunfo. Foram coletadas as partículas atmosféricas, utilizando um amostrador de partículas e as coletas de material biológico dos trabalhadores para as análises de superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPx) e poder antioxidante total (FRAP). O grupo controle foi selecionado a partir de um banco de dados já existente, de um laboratório de análises clínicas do município sendo composto por indivíduos saudáveis e não expostos ao material particulado. Os resultados das concentrações de material particulado tiveram média de 16,46 µg/m3 para o material particulado fino e de 300,12 µg/m3 para o material particulado grosso. Os resultados das análises sócio-demográficas do grupo controle apresentam prevalência do sexo feminino que possuem ensino médio completo, com renda mensal média de até dois salários mínimos. Já no grupo exposto encontra-se uma prevalência de indivíduos do sexo masculino, com ensino fundamental e médio completos, renda mensal superior a dois salários mínimos, a maioria dos trabalhadores sem o hábito de fumar. No grupo exposto verificou-se um aumento na GPx e uma diminuição da SOD comparado ao grupo controle. Não houve diferença significativa para o FRAP entre grupo controle e grupo exposto. Assim, podemos concluir que os trabalhadores expostos ao material particulado têm níveis de enzimas oxidativas mais elevados e defesas oxidativas diminuídas quando comparados ao grupo controle.

Biografia do Autor

Daniela Philippsen Goelzer, Universidade Feevale
Bacharel em Biomedicina. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Paula Schmitt, Universidade Feevale
Bióloga, formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e mestre em Geologia, com foco em Meio Ambiente e Recursos Minerais. Tem experiência em licenciamento ambiental, monitoramento de fauna e coordenação de projetos. Atualmente, atua como consultora ambiental e integra o Programa de Aperfeiçoamento Científico da Feevale.
Aline Belem Machado, Universidade Feevale
Bacharel em Biomedicina. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Magda Susana Perassolo
Doutora em Ciências Médicas: Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio Grande. Professora titular e pesquisadora no Mestrado Acadêmico em Toxicologia e Análises Toxicológicas da Universidade Feevale.
Daniela Montanari Migliavacca Osório, Universidade Estadual de Campinas
Doutora em Ecologia pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisadora Colaboradora da Faculdade de Tecnologia da UNICAMP.
Daiane Bolzan Berlese, Universidade Feevale
Doutora em Bioquímica Toxicológica. Professora de Bioquímica do Instituto de Ciências da Saúde e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

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Publicado
2024-04-11
Seção
Meio Ambiente