ETNOECOLOGIA DO CAMBUCI (Campomanesia phaea (O. Berg) LANDRUM) PELA POPULAÇÃO DE PARANAPIACABA, SUDESTE DO BRASIL
DOI:
https://doi.org/10.17765/2176-9168.2017v10n4p1179-1203Palavras-chave:
Conservação da biodiversidade, Alimentação, Etnobotânica, Sustentabilidade.Resumo
A relação do homem com a natureza é tão antiga quanto a sua própria história. No entanto a biodiversidade tem sido ameaçada pelas atividades humanas. Assim, o presente trabalho se propôs a conhecer a relação de uma população humana urbana com uma espécie arbórea, conhecida como cambuci (Campomanesia phaea (O. Berg) Landrum), bastante utilizada para diferentes fins e de relevante interesse ecológico, próximo a uma área de conservação na Mata Atlântica, Sudeste do Brasil. Para isso, foi analisada a população da vila de Paranapiacaba, cidade de Santo André, SP, a qual mantém relação estreita com o cambuci. Foram realizadas 50 entrevistas com moradores e comerciantes locais que concordaram em participar, utilizando-se do método bola de neve e de conversas informais. Foram levantados na entrevista os diversos usos e aplicações do fruto de cambuci, bem como outros aspectos relacionados à ecologia da planta. Os entrevistados demonstraram conhecimento sobre os visitantes florais da C. phea e prováveis dispersores de seus frutos. Em relação ao plantio de mudas, os dados indicam que a comunidade humana promove o plantio da espécie uma vez que a utiliza como recurso para diversos fins e produz mudas por meio de sementes e brotos retirados da mata. Um dos principais usos do cambuci pelos moradores de Paranapiacaba foi o de alimento, sendo o fruto encontrado em diversas formas como como geleias, licores, cachaça, mousse, sorvete, bolo, além do tradicional suco na região.Referências
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