Neuromarketing e a exploração comercial da mente humana: desafios ético-jurídicos à autonomia decisória do consumidor
DOI:
https://doi.org/10.17765/2176-9184.2025v25.e14011Palavras-chave:
Autonomia decisória, Ética, Neuromarketing, Proteção do consumidorResumo
Contextualização: Este artigo investiga o uso do neuromarketing como uma técnica que atua sobre estímulos inconscientes para influenciar decisões de consumo. Embora essa prática amplifique a eficácia da persuasão comercial, ela levanta importantes desafios ético-jurídicos relacionados à autonomia do consumidor. A interferência em processos cognitivos automáticos pode limitar a autonomia individual, tornando imperativa a reflexão sobre a criação de mecanismos regulatórios que garantam a proteção dos direitos dos consumidores diante dessas inovações.
Objetivos: O estudo tem como finalidade examinar criticamente os impactos do neuromarketing sobre a autonomia decisória do consumidor, à luz dos princípios éticos e jurídicos que regem as relações de consumo. Busca-se avaliar em que medida as técnicas neurocientíficas podem comprometer a liberdade de escolha e identificar os desafios regulatórios necessários para equilibrar o avanço tecnológico com a salvaguarda dos direitos fundamentais do indivíduo.
Metodologia: Para tanto, a pesquisa utiliza o método hipotético-dedutivo com abordagem qualitativa, baseada em revisão bibliográfica. A análise articula referências jurídicas, neurocientíficas e éticas, a fim de contextualizar o uso do neuromarketing e examinar seus impactos sobre a autonomia decisória do consumidor no âmbito das relações de consumo contemporâneas.
Resultados: Os resultados apontam que, embora o neuromarketing ofereça inovações promissoras para o mercado, ele pode, em determinados contextos, reduzir significativamente a capacidade crítica do consumidor, afetando sua autodeterminação. Essa pesquisa revela que há uma zona cinzenta regulatória, com ausência de normas específicas que limitem o uso de técnicas de persuasão baseadas em dados neurofisiológicos. Verifica-se, portanto, a urgência de um debate mais aprofundado sobre a necessidade de marcos legais e éticos que assegurem a proteção da vontade do consumidor frente às novas tecnologias de influência comportamental.
Referências
ALI, S; ABUHMED, T; EL-SAPPAGH, S; MUHAMMAD, K; ALONSO-MORAL, J.M; CONFALONIERI, R; GUIDOTTI, R; DEL SER, J; DÍAZ-RODRÍGUEZ, N.; HERRERA, F. (2023). Inteligência Artificial Explicável (IAX): O que sabemos e o que falta para alcançar uma Inteligência Artificial Confiável. Information Fusion, 99, 101805. DOI: https://doi.org/10.1016/j.inffus.2023.101805.
ANDREJEVIC, Mark. Brain whisperers: Cutting through the clutter with neuromarketing. Somatechnics, v. 2, n. 2, p. 198-215, 2012.
BIBLIOTECA DO CONGRESSO NACIONAL DO CHILE. Ley Nº 21.383: Modifica la Carta Fundamental, para establecer el desarrollo científico y tecnológico al servicio de las personas. Santiago, 14 de octubre de 2021. Disponível em: https://www.bcn.cl/leychile/navegar?idNorma=1166983. Acesso em: 29 jun. 2025.
BORGES, Gustavo; FILÓ, Maurício Da Cunha Savino. Consumo, publicidade e inteligência artificial: (necessários) limites à tecnologia persuasiva no constante assédio do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, v. 136, 2021, p. [recurso on-line].
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 2.174, de 2023. Estabelece as normas e princípios para proteção dos direitos fundamentais relacionados ao cérebro e ao sistema nervoso humano, objetivando garantir a proteção e promoção dos neurodireitos dos indivíduos. Brasília, 2023. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2288518&filename=Avulso%20PL%202174/2023. Acesso em: 29 jul. 2025.
BRASIL. Projeto de Lei Nº 522/2022. Modifica a Lei n° 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), a fim de conceituar dado neural e regulamentar a sua proteção. Câmara dos Deputados, 2022. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2317524. Acesso em: 29 jun. 2025.
BRASIL. Proposta de Emenda à Constituição Nº 29, de 2023. Altera a Constituição Federal para incluir entre os direitos e garantias fundamentais a proteção à integridade mental e à transparência algorítmica. Senado Federal, 2023. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/158095. Acesso em: 29 jun. 2025.
DONEDA, Danilo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
Farah, M. J. (2015). Neuroethics: the ethical, legal, and societal impact of neuroscience. Annual Review of Psychology, 66, 571-591. DOI: https://doi.org/10.1146/annurev.psych.093008.100438
FERREIRA, Versalhes E. N. et al. Neurotecnologias e neurodireitos: a tutela jurídica da mente humana. Revista de Direitos Humanos e Efetividade, v. 10, n. 2, p. 16–39, 2025. DOI: https://doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2526-0022/2024.v10i2.10836
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor: doutrina, jurisprudência e aspectos práticos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GAZZANIGA, M. S.; MANGUN, G.R.; IVRY, R.B. Neurociência Cognitiva: A Biologia da Mente. Artmed, 2006.
GENSER, J; DAMIANOS, S; YUSTE, R. Safeguarding Brain Data: Assessing the Privacy Practices of Consumer Neurotechnology Companies. Neurorights Foundation, 2024. Disponível em: https://perseus-strategies.com/wp-content/uploads/2024/04/FINAL_Consumer_Neurotechnology_Report_Neurorights_Foundation_April-1.pdf. Acesso em: 12 jun. 2025.
Ienca, M., & Andorno, R. (2017). Towards new human rights in the age of neuroscience and neurotechnology. Life Sciences, Society and Policy, 13(1), 5. DOI: https://lsspjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40504-017-0050-1
LEE, Nick; BRODERICK, Amanda J; CAMBERLAIN, Laura. What is ‘neuromarketing’? A discussion and agenda for future research. International Journal of Psychophysiology, v. 63, n. 2, p.199-204, 2007. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijpsycho.2006.03.007
LINDSTROM, Martin. A lógica do consumo: verdades e mentiras sobre por que compramos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
LINDSTROM, Martin. Brandwashed: o lado oculto do marketing e da propaganda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 1.ed. 2004.
MADAN, Christopher R. Neuromarketing: the next step in market research? Eureka,v. 1, n. 1, p. 34 42, DOI: https://doi.org/10.29173/eureka7786
MENDONÇA, Gilson Martins; KOZICKI, Katya; COELHO, Sérgio Reis. O princípio da vulnerabilidade e as técnicas de neuromarketing: aprofundando o consumo como vontade irrefletida. Scientia Iuris, Londrina, v.?18, n.?1, p.?135–152, jul. 2014. DOI: https://doi.org/10.5433/2178-8189.2014v18n1p135
OHME, Rafal; MATUKIN, Michal. A small frog that makes a big difference: Brain wave testing of TV advertisements. IEEE pulse, v. 3, n. 3, p. 28-33, 2012.
OTTEN, L. J; RUGG, M. D; Interpreting ER Brain Potentials. In: HANDY, Todd C. Event-related potentials: a methods handbook. Cambridge: MA. The MIT Press. 2005.
PINTARELLI, Camila. A proteção jurídica da mente. Revista de Direito Comparado, v. 1, n. 1, 2022, p.104-119. DOI: https://doi.org/10.56242/direitodasaudecomparado;2022;1;1;104-119
PLASSMANN, Hilke; RAMSOY, Thomas Z.; MILOSAVLJEVIC, Milica. Branding the brain: A critical review and outlook. Journal of consumer psychology, v. 22, n. 1, p. 18-36, 2012. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.jcps.2011.11.010
SHER, Shlomo. A framework for assessing immoraly manipulative marketing tactics. In: Journal of Business Ethics, n. 102, p. 97-118, 2011. DOI: https://doi.org/10.1007/s10551-011-0802-4
SUNSTEIN, Cass. Nudges.gov: behaviorally informed Regulation. In: ZAMIR, Eyal; Teichman, Doron. The Oxford Handbook of Behavioral Economics and the Law. Oxford University Press, 2014. p. 723. Disponível em: https://www.oxfordhandbooks.com/.
TSAI, Jessica. Você é mais inteligente que um neuromarketing? As empresas sempre miraram no coração do cliente, mas a cabeça pode ser um alvo melhor. CRM Magazine, vol. 14, n.º 1, jan. de 2010, p. 19. Disponível em: https://go.gale.com/ps/i.do?id=GALE%7CA215923617&sid=googleScholar&v=2.1&it=r&linkaccess=abs&issn=15298728&p=HRCA&sw=w&cookieConsent=true&analyticsOptout=false&userGroupName=anon~bd349377&aty=open-web-entry.
UNIÃO EUROPEIA. Directive 95/46/EC of the European Parliament and of the Council of 24 October 1995 on the protection of individuals with regard to the processing of personal data and on the free movement of such data. Official Journal of the European Union, L 281, p. 31–50, 23 out. 1995. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/ALL/?uri=celex:31995L0046.
UNIÃO EUROPEIA. Regulation (EU) 2024/1689 of the European Parliament and of the Council of 13 June 2024 laying down harmonised rules on artificial intelligence and amending Regulations (EC) No 300/2008, (EU) No 167/2013, (EU) No 168/2013, (EU) 2018/858, (EU) 2018/1139 and (EU) 2019/2144 and Directives 2014/90/EU, (EU) 2016/797 and (EU) 2020/1828 (Artificial Intelligence Act) (Text with EEA relevance). Official Journal of the European Union, L, 2024. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32024R1689.
WILD, Kate. Our notion of privacy will be useless: what happens if technology learns to read our minds? The Guardian, 2021. Disponível em: https://www.theguardian.com/technology/2021/nov/07/our-notion-of-privacy-will-be-useless-what-happens-if-technology-learns-to-read-our-minds. Acesso em: 17 jun. 2025.
YUSTE, R; GOERING, S. et al. Four ethical priorities for neurotechnologies and AI. Nature. 2017. DOI: https://doi.org/10.1038/551159a
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Jurídica Cesumar - Mestrado

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A Revista se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com o intuito de manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores. As opiniões emitidas pelos autores são de sua exclusiva responsabilidade.
Os direitos autorais pertencem exclusivamente aos autores. Os direitos de licenciamento utilizado pelo periódico é a licença Commons Atribuição 4.0 Internacional. São permitidos o compartilhamento (cópia e distribuição do material em qualquer meio ou formato) e adaptação (remixar, transformar, e criar a partir do trabalho, mesmo para fins comerciais), desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.







