Crítica hermenêutica do direito e a Inteligência Artificial no judiciário: desvelando as bases racionalistas do direito processual brasileiro

Palavras-chave: Racionalismo, Processo Civil, Procedimento, Hermenêutica, Efetividade processual

Resumo

O racionalismo foi incorporado à prática jurídica e os principais exemplos no ordenamento jurídico brasileiro são os próprios procedimentos do CPC que prezam pela forma e pela uniformização das decisões judiciais, a isso acrescenta-se a informatização da justiça e o desenvolvimento de tecnologias que auxiliam na tomada de decisões. Desde o desenvolvimento dessas tecnologias até a forma como esses sistemas entregarão a decisão envolvem uma ideia de exatidão do Direito, transformando questões de complexidade social, que envolvem formas de interpretação e hermenêutica em questões matemáticas. A problemática em questão reside no fato de que a utilização das tecnologias pelo Poder Judiciário se dá sob a justificativa baseada na efetividade processual e na busca pela resolução da maior quantidade de demandas, considerando somente números em abstrato e esquecendo dos casos concretos e suas peculiaridades. Diante desse quadro, o presente trabalho pretende apresentar uma crítica a ideia de racionalismo associada ao Direito e tendo como possível solução a leitura feita pela Crítica Hermenêutica do Direito e os compromissos constitucionais, o método adotado para tanto foi o fenomenológico hermenêutico.

Biografia do Autor

Sabrina Staats, UNISINOS
Doutoranda em Direito com bolsa PROEX/CAPES pelo PPGD em Direito da Unisinos. Mestre em Direito pelo PPGD - IMED pós-graduada em Direito Constitucional, membro do Grupo de Pesquisa: "Direito e Inteligência Artificial - IAJUS", sob coordenação do Prof. Dr. Fausto Santos de Morais. Editora Assistente da Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito. Membro da Comissão de Estudos Constitucionais e Justiça da OAB - Passo Fundo/RS. Advogada.
Fausto Santos de Morais, ATITUS
Doutor em Direito. Docente do PPGD Atitus Educação. Membro Fundador da Assoc. Ibero Americana de Direito e IA – AIDIA. Editor Chefe da Revista Brasileira de IA e Direito – RBIAD. Head do Grupo de Pesquisa IAJUS TEAM.

Referências

ABBOUD, Georges. Jurisdição constitucional e direitos fundamentais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

ABBOUD, Georges; LUNELLI, Guilherme. Ativismo Judicial E Instrumentalidade Do Processo: Diálogos entre discricionariedade e democracia. Revista de Processo. v. 242 2015. p. 21-47. abr. / 2015. DTR20153679

BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Sentença da coisa julgada. 4. ed. RJ: Forense, 2003.

BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Jurisdição e execução na tradição romano canônica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do Precedente Judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012.

CAPPELLETTI, Mauro. Processo, ideologias e sociedade. Trad. Elício de Cresci Sobrinho. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Ed. 2008.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em números 2018: ano-base 2017. Brasília, DF, 2018. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/fi les/conteudo/ arquivo/2018/08/44b7368ec6f888b383f 6c3de40c32167.pdf. Acesso em: 04 mai. 2023.

DINAMARCO, Cândido. A instrumentalidade do processo. 6ª. ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1998.

ESPÍNDOLA, Ângela Araújo da Silveira. A refundação da jurisdição e as multidimensões da sustentabilidade. In: TYBUSCH, Jerônimo (Org.). Direitos emergentes na sociedade global: anuário do programa de pós-graduação em direito da UFSM. Ijuí, RS: Unijuí, 2013. p. 49-74.

FERRAMENTA ÁGIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Disponível em: https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/hotsites/relatorio-de-gestao-2016-a-2018/ferramenta-agil.htm. Acesso em: 03 ago. 2023.

FERREIRA, Rafael Fonseca; ANADON, Celine Barreto. Processo e jurisdição no constitucionalismo contemporâneo: substancialização e legitimação (política e jurídica) pela via democrática. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI / UNINOVE, 22., 2013, Florianópolis. Anais [...] . Florianópolis: Funjab, 2013. p. 484-508. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/publicacao/uninove/livro.php?gt=197. Acesso em: 21 jul. 2023.

GABRIEL, Markus. O sentido do pensar: a filosofia desafia a inteligência artificial. Petrópolis: Vozes, 2021.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Trad. Flávio Paulo Meuwrer. Petropolis, RJ: Vozes, 2007

ISAIA, Cristiano Becker. Processo Civil, atuação judicial e hermenêutica filosófica. 2ª. ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 61.

MARIN, Jeferson; LUNELLI, Carlos Alberto. O direito e a viragem linguística do Século XX: as bases do discurso jurídico. In: Revista Scientia Iuris, Londrina, v. 14, nov. 2010. p.143-154.

MARIN, Jeferson; LUNELLI, Carlos Alberto. O direito como ciência do espírito: a necessidade de mudança paradigmática do processo. In: Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD). UNISINOS, julho/dezembro, 2012. 4(2): 165-174.

MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil - Teoria Geral do Processo. v. 1. 3 ed. São Paulo: RT, 2008.

MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. O Projeto do CPC: Críticas e propostas. São Paulo: RT, 2010.

MELLO, Patrícia Perrone Campos; BARROSO, Luís Roberto. Trabalhando com uma nova lógica: a ascensão dos precedentes no Direito brasileiro. In: Revista da AGU, v. 15, n. 3. Brasília: Fórum, jul./set. 2016, pp. 9-52

MORAIS, Fausto Santos de; SANTOS, José Paulo Schneider dos. A Teoria da Constituição Dirigente como imaginário para a hermenêutica constitucional brasileira. Revista de Direito Brasileir, Florianópolis, v. 10, n. 5, p. 107-124, ago. 2015.

NUNES, Dierle. Afastamento de precedente não pode continuar sendo regra. Consultor Jurídico. 2014. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2014-jun-04/dierle-nunes-afastamento-precedente-nao-regra#_ftn3_6899>

OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Do formalismo no processo civil: proposta de um formalismo-valorativo. 3ª. ed. rev., atual. e aumentada. São Paulo: Saraiva, 2009.

OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

PASSOS, Joaquim José Calmon De. Democracia, Participação e Processo. In: Participação e Processo. Coord. Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco, Kazuo Watanabe. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988.

Plataforma Radar aprimora a prestação jurisdicional. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Disponível em: https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/plataforma-radar-aprimora-a-prestacao-jurisdicional.htm. Acesso em: 03 ago. 2023.

PINHEIRO, Guilherme César. A razoável duração do procedimento e a efetividade processual: uma abordagem a partir do devido processo legal. In: Revista de Direito Público. Londrina, V. 6, N. 2, P. 23-54, ago./set. 2011.

PORTO, S. G.; PORTO, G. A. Lições sobre teorias do processo: civil e constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.

PUERARI, Adriano Farias. O processo virtual para além do paradigma racionalista. In: 2° Congresso internacional de direito e contemporaneidade: mídias e direitos da sociedade em rede, 2., 2013, Santa Maria. Anais [...] . Santa Maria: Ufsm, 2013. p. 90-104.

RIBEIRO, Darci Guimarães; GALLE, Diego. A superação do paradigma racionalista como pressuposto para a concretização do direito à tutela jurisdicional efetiva: uma análise da ciência processual civil na tradição romano-canônica. In: Revista Eletrônica Direito e Política. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v. 3, n.3, 3º quadrimestre de 2008.

SEARLE, John. Intencionalidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. MORAIS, F. S. D. E. (2021). O Uso da Inteligência Artificial na Repercussão Geral : Desafios Teóricos e Éticos. Revista Direito Público, 18(Inteligência Artificial, Ética e Epistemologia), 306–326.

SILVA, Jaqueline Mielke; XAVIER José Tadeu Neves. Reforma do Processo Civil. Porto Alegre: Editora Verbo Jurídico, 2006.

Sistema AGU de Inteligência Jurídica – Sapiens. Advocacia Geral da União. Disponível em: https://institucional.ufrrj.br/procuradoria/inicio/conheca-a-pfufrrj/sapiens/. Acesso em: 03 ago. 2023.

STF finaliza testes de nova ferramenta de Inteligência Artificial. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=507120&ori=1. Acesso em: 03 ago. 2023.

STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 179.

STRECK, Lenio Luiz. Lições de crítica hermenêutica do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: Perspectivas e Possibilidades de Concretização dos Direitos Fundamentais Sociais no Brasil. Novos Estudos Jurídicos, Itajaí, v. 8, n. 2, p. 257-301, out. 2003.

STRECK, Lenio Luiz; RAATZ, Igor; MORBACH, Gilberto. Da Complexidade À Simplificação Na Identificação Da Ratio Decidendi: Será Mesmo Que Estamos A Falar De Precedentes No Brasil? Revista Jurídica, Curitiba, v. 1, n. 54, p. 317 – 341, 2019.

STRECK, Lenio Luiz; BERNSTS, Luísa Guiliani; GOMES, Jeferson de Carvalho. Inteligencia Artificial: Mesmos Problemas, Mas Na Versão Hi-Tech. Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional. Curitiba, 2021, vol. 13, n. 25, p. 333-342, ago./dez., 2021.

STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica e possibilidades críticas do direito: ensaio sobre a cegueira positivista. Revista Brasileira de Estudos Políticos. Disponível em: http://www.pos.direito.ufmg.br/rbep/097033070.pdf. Acesso em: 24 jul. 2023.

STRECK, Lenio Luiz; ABBOUD, Georges. O que é isto – o precedente judicial e as súmulas vinculantes. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.

STRECK, Lenio Luiz. Precedentes judiciais e Hermenêutica: o sentido da vinculação no CPC/2015. Salvador: Juspodivm, 2019.

STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso: Constituição, Hermenêutica e Teorias

Discursivas. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

STRECK, Lenio Luiz. Estamos condenados a interpretar. São Paulo: Estado da Arte, 2020. Disponível em: https://estadodaarte.estadao.com.br/hermeneutica-juridica-streck/. Acesso em: 20 jul. 2023.

STRECK, Lenio. Hermenêutica Jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção de Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

TARUFFO, Michele. Dimensioni del precedente giudiziario. Revista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, in Revista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, XLVIII, 1994, pp.411–430.

Publicado
2023-08-31
Seção
Doutrinas